segunda-feira, 30 de abril de 2012

Onde o Teatro acontece

Ontem apercebi-me novamente de que o Teatro pode acontecer em qualquer lugar. Já o sabia, já o tinha visto acontecer em lugares mais extravagantes e improváveis, como uma brisa que sorrateiramente entra e faz-nos sentir a sua presença sem que estejamos à espera. 
O Teatro Bolo do Caco, que dinamiza o espaço 116, na Rua de Santa Maria (Zona Velha do Funchal), apresentou este fim de semana, em três sessões, o trabalho "Rabos-de-Peixe. Episódios da Zona Velha". O próprio nome diz tudo: presentearam-nos com quadros do quotidiano daquela zona da cidade e de pessoas que por lá andaram há muitos anos. Qualquer funchalense identificar-se-ia com aqueles ecos do passado e com uma maneira de ser e de linguarejar que nos são muito caraterísticas.
O espaço 116 não é mais do que uma casa abandonada e velha. As paredes quase já não têm tinta, as janelas estavam tapadas com panos pretos apenas e vê-se as traves no teto que ainda resta. Não seria um espaço apropriado a receber um espetáculo teatral. mas este fim de semana o Teatro aconteceu. E foi uma boa surpresa. 
Conheço aquelas caras jovens com amor ao Teatro. E fiquei com vontade de representar novamente. Cedo. O quanto antes. Em qualquer espaço. Mesmo considerando que o espaço era reduzido e que a disposição das cadeiras não deixou ver com clareza as cenas que aconteciam num nível inferior, gostei. Foi um bom começar.
Venha a próxima.



domingo, 29 de abril de 2012

Blood Of My Blood (Sangue do Meu Sangue) - TRAILER



O Filme "Sangue do meu sangue", do realizador João Canijo, ganhou o prémio New Vision, na Áustria. Mais um para o seu percurso que já vai contando com alguns prémios importantes e a provar que em portugal também se faz bom cinema.
O filme é protagonizado por Rita Branco, Anabela Moreira, Cleia de Almeida, Nuno Lopes e Rafael Morais. 

sábado, 28 de abril de 2012

Desenhos realistas





Pau Cadden, escocês, é artista e os seus desenhos estão a fazer furor desde que foram expostos em fevereiro último. Parecem fotos, mas são mesmo desenhos, feitos a lápis sem mais qualquer equipamento.
O artista afirma que “O hiper-realismo tende a criar um impacto emocional, social e cultural e difere de foto-realismo que é muito mais técnico. A minha inspiração vem da frase: intensificar o normal. Eu uso objectos e cenas de pessoas do quotidiano e depois crio um desenho, que carregue um impacto emocional”.
Podem encontrar mais em http://paulcadden.com/.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Algumas sugestões e alguma cultura

Para aqueles que estão sempre a dizer que nunca acontece nada de diferente nesta terra e que os momentos culturais não existem, cá deixo algumas sugestões, uma pequena amostra do que por cá vai acontecendo.

  •  Teatro Baltazar Dias - Festa do Cinema Italiano - de 26 a 29 de abril

  • Na Zona Velha da cidade - "Rabos de Peixe - episódios da zona velha" - Teatro do Bolo do Caco:
            •  dias 27 e 28 de abril - sexta e sábado - às 21h
            • dia 29 de abril - domingo - às 18h



  •   Fórum Machico - "A Fúria de Shakespeare" - Porventura Teatro - 28 de abril, às 21h

  •  Centro Cívico de Câmara de Lobos - "Violências" - GMT Oficina Versus (principalmente para escolas)
      •  3 de maio, às 15h
      • 4 de maio, às 11h
  • Casa da Cultura de Santana - Dia Mundial da Dança (29 de abril) - a partir das 15h



  • Auditório do Centro de Congressos da Madeira - Dia Mundial da Dança (29 de abril) - Bailado "Branca de Neve" - Escola de bailado Carlos Fernandes.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Trova do Vento que Passa

 Trova do Vento que Passa

Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.

Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.

Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio — é tudo o que tem
quem vive na servidão.

Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.

E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.

Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.

Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).

Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.

E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.

Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.

E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.

Quatro folhas tem o trevo
liberdade quatro sílabas.
Não sabem ler é verdade
aqueles pra quem eu escrevo.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.

Manuel Alegre

terça-feira, 24 de abril de 2012

Fernando Pessoa por Joao Villaret - Liberdade



Encontrei este poema de Fernando Pessoa citado por João Villaret numa página de facebook de um amigo e fiquei logo com vontade de ouvi-lo repetidas vezes. Não se fala de liberdade tantas vezes quanto podíamos ou devíamos. Às vezes nem sequer se fala dela ou nem por ela damos. Às vezes nem a temos e também passa-nos ao lado o facto de por vezes ser uma ilusão num mundo controlado por instituições nem sempre bem intencionadas.
Amanhã, 25 de abril, fala-se de liberdade em Portugal. Cheira a Abril (com maiúscula!). A liberdade a que aspirámos e pela qual combatemos, a que tivemos, a que sonhámos ter, a que supostamente tivemos e a que perdemos (partindo do princípio inocente de que dela alguma vez usufruímos). Mas liberdade é liberdade, Pessoa é pessoa e poesia é poesia... Um momento de liberdade para ler e ouvir, nem que seja uma doce ilusão.



Liberdade 

 Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
Sol doira
Sem literatura
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como o tempo não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto é melhor, quanto há bruma,
Esperar por D.Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,

Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

Mais que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Dia Mundial do Livro


Comemora-se hoje o Dia Mundial do Livro. O dia de ler, do prazer de ler, de tocar nos livros e de ter com eles uma relação íntima que nos traz responsabilidades, direitos e deveres. Por isso, relembro os direitos inalienáveis dos leitores tais como enunciados por Daniel Pennac em Como um Romance

O direito de não ler.
O direito de saltar páginas.
O direito de não acabar um livro.
O direito de reler.
O direito de ler não importa o quê.
O direito de amar os “heroís” dos romances.
O direito de ler não importa onde.
O direito de saltar de livro em livro.
O direito de ler em voz alta.
O direito de não falar do que se leu.

Claro que estes direitos trazem grande responsabilidade;  não se trata da desresponsabilização do leitor, como numa primeira leitura se poderia supor. Encarada numa perspetiva em que se leva a um certo extremo a Estética da Receção, assim como o Reader Response Criticism de tradição anglo-americana, a verdade é que, ao longo das páginas deste livro, é feito um convite à leitura e defende-se a importância de ler para a formação dos indivíduos. Quando mais não seja pelo prazer de ler à boa maneira de Barthes. Por isso, meus amigos, nada de desculpas: vamos lá pegar num livro e ler! Afinal ainda é um dos maiores prazeres da vida.

domingo, 22 de abril de 2012

Festa da Flor na Madeira 2012







O Funchal hoje esteve assim, florido. Uma festa que se pretende uma homenagem à flor, à Primavera e, claro, a tudo a que a flor simboliza de bom no mundo. Foi um dos nossos melhores cartazes turísticos a funcionar e com casa bem cheia. Fica aqui um cheirinho (as fotos, infelizmente, não são minhas, mas não pude deixar de partilhar).

sábado, 21 de abril de 2012

Miguel Araújo - Os Maridos Das Outras



Brilhante! É o mínimo que se pode dizer para caraterizar esta música. 
A riqueza do poema, aliada à simplicidade e leveza das palavras, a uma sonoridade que nos eleva e ao seu esquema rimático escolhido com primor fazem com que seja uma relíquia a não perder, a um nível que não se via desde Fernando Pessoa.
Além do mais, o tema, tão atual faz com que toda a gente se identifique com a mensagem transmitida.
Para ouvir com atenção!

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Fucking não consegue mudar de nome - Mundo - PUBLICO.PT

Fucking não consegue mudar de nome - Mundo - PUBLICO.PT


Há nomes de terriolas bem esquisitos. Os 104 habitantes de Fucking vão a votos esta semana para mudar de nome da povoação. Porque será? A brincadeira é tanta que as placas até são roubadas.
Portugal também lá terá os seus: Venda da Gaita, Venda das Raparigas, Picha, Cabrões, Vale da Rata, Rio Cabrão, etc.
Lá nisso fomos imaginativos...

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Apetece-me poesia

Hoje não me apetece publicar nada sobre política nem sobre crise. Para isso, basta o dia a dia, ligar a televisão, folhear um jornal, ouvir as conversas de café. Apetece-me poesia... Como escreveu Manuel Alegre no seu último livro (que saiu esta segunda-feira), "Não sei se há poemas sem país". 
O querer chegar a um palácio e aperceber-se de que está vazio é uma imagem carregada de grande simbolismo. Percorrendo desertos e sóis qual cavaleiro andante, personagem quase quixotesca, busca o palácio encantado da Ventura que, provavelmente nunca terá. E no fim, apercebe-se de que realmente o próprio castelo é uma ficção, cheio de silêncio e escuridão. Percorrem estas palavras um tom melancólico: provavelmente este sujeito poético já sabia qual seria o resultado da sua demanda.

O Palácio da Ventura  

Sonho que sou um cavaleiro andante.
Por desertos, por sóis, por noite escura,
Paladino do amor, busco anelante
O palácio encantado da Ventura!

Mas já desmaio, exausto e vacilante,
Quebrada a espada já, rota a armadura...
E eis que súbito o avisto, fulgurante
Na sua pompa e aérea formosura!

Com grandes golpes bato à porta e brado:
Eu sou o Vagabundo, o Deserdado...
Abri-vos, portas de ouro, ante meus ais!

Abrem-se as portas d'ouro com fragor...
Mas dentro encontro só, cheio de dor,
Silêncio e escuridão - e nada mais!

Antero de Quental, in "Sonetos"

Comentário de uma professora

Num programa da SIC, uma professora foca alguns problemas - e algumas verdades - sobre a educação e o ensino em Portugal. Mesmo considerando que a professora se emocione com o que vai dizendo, tal só evidencia o grau de saturação a que os docentes do nosso país estão a chegar.
O melhor mesmo é ouvir; cada um reflita e tire as suas conclusões.



terça-feira, 17 de abril de 2012

PSD perde a primeira votação na ALM | DNOTICIAS.PT



PSD perde a primeira votação na ALM | DNOTICIAS.PT

Há coisas assim... Um descuido e uma brecha na maioria. O desnorte está a aumentar. E onde está a oposição séria e a alternativa credível para aproveitar estas oportunidades e mostrar que é capaz de assumir o poder na ilha?

Boa música

Há muitas bandas desconhecidas mas que fazem muito boa música. Descobri hoje esta banda sueca, os Kite. "Johnny Boy" é uma amostra.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Pela estabilidade nas escolas



Foi noticiado pela comunicação social regional que finalmente foi alcançado um acordo entre a Secretaria Regional da Educação e dos Recursos Humanos e os sindicatos de professores relativamente ao Estatuto da Carreira Docente e ao sistema de avaliação de desempenho de professores. Um dos sindicatos recusou-se a aceitar o acordo.
Quem tem prestado atenção ao que se tem passado no ensino e educação na Madeira não pode deixar de continuar apreensivo. A verdade é que tem havido negociações, avanços, recuos, frases polémicas e os professores continuam a sentir uma grande instabilidade que em nada contribui para o sucesso dos alunos. 
Claro que só podemos ter uma opinião formada e estruturante sobre o que foi acordado depois da devida divulgação, mas fica o meu desejo e esperança de que se acabe com algumas impunidades e irregularidades (para não dizer ilegalidades) que têm prejudicado os professores da RAM.
Em baixo a notícia sobre o acordo. Aguardemos e estejamos atentos para as novidades.


Secretaria de Educação e Sindicatos chegam a acordo com excepção do SPM | DNOTICIAS.PT

domingo, 15 de abril de 2012

Reencontro com Miguel Torga

Esta sexta-feira, num seminário de Literatura, tive o prazer de reencontrar Torga. Fica um cheirinho para abrir o apetite.
"Pátria sem rumo, minha voz parada
Diante do futuro!
Em que rosa-dos-ventos há um caminho
Português?
Um brumoso caminho
De inédita aventura,
Que o poeta, adivinho,
Veja com nitidez
Da gávea da loucura?

Ah, Camões, que não sou afortunado!
Também desiludido,
Mas ainda lembrado da epopeia!
Ah, meu povo traído,
Mansa colmeia
A que ninguém colhe o mel!...
Ah, meu pobre corcel
Impaciente,
Alado
E condenado
A choutar nesta praia do Ocidente..."
(Miguel Torga, in Diário XII, 1977)

Da idade da reforma e outras ficções

 
 
Em 2011 estreou "In time - O preço do amanhã", com realização de Andrew Niccol e com Justin Timberlake no papel principal.
A história resumida do filme é simples: num futuro pouco risonho, a tecnologia e os avanços científicos permitem à humanidade a capacidade de fazer com que os seres humanos se conservem, através de manipulações genéticas, sempre novos. Para isso, têm de comercializar o tempo de vida que lhes é atribuído num relógio incorporado no braço. Não há dinheiro e as trocas são feitas tendo sempre por base o factor tempo. A criminalidade tem apenas em conta esse vetor: mata-se para conseguir mais tempo. Claro está que os mais ricos fazem da comercialização e do roubo do tempo mais uma maneira de enriquecer. Quando acaba o tempo, o indivíduo morre.
O que tem isto a ver com a idade da reforma que, segundo parece, o nosso governo quer alterar de 65 para 67? Nada, pelo menos diretamente. Numa segunda instância, podemos interpretar o filme como uma metáfora do que se passa por essa Europa (é limitador pensar que é uma situação apenas portuguesa), onde se usa o argumento do aumento da esperança de vida para justificar tudo e mais alguma coisa em relação à idade da reforma e em relação às condições a que sujeitamos os reformados. A desumanidade com que tratamos pessoas que contribuíram para a sociedade, trabalharam, descontaram, pagaram os seus impostos não tem desculpa nem argumento que a justifique. 
A verdade é que se trata de um problema social e não tenho solução para ele.Se no filme as pessoas ficam sempre novas, a vida real é mais complicada: envelhecem. Envelhecemos, sem qualquer contemplação. As sociedades devem refletir seriamente sobre o modelo em que se querem apoiar e não seguir atrás do que é imediato só porque o mundo financeiro está doente e asfixia tudo à sua volta. 
Estranhamente o tempo está a acabar até que a situação se torne insustentável. Lá está ele, o tempo, útil, precioso, inevitável... E a idade da reforma chega a todos.


sexta-feira, 13 de abril de 2012

Nem tudo é mau em tempo de crise - Universidade de Coimbra: projeto de interajuda que une estudantes e idosos

Universidade de Coimbra: projecto de inter-ajuda que une estudantes e idosos


De facto nem tudo é mau em épocas de crise. Um projeto interessante que pretende ajudar tanto estudantes a precisar de alojamento em Coimbra - cidade universitária por excelência - como idosos a precisar de companhia e de algum apoio para as tarefas do dia a dia.
Em baixo, transcrevo o texto da notícia na íntegra.
Apenas uma chamada de atenção: quando somos bombardeados com más notícias quase diariamente, é bom ver que há inovação e vontade de superar dificuldades. Este projeto não vai salvar o país, nem realizar milagres no coletivo, mas é com passos destes que se descobrem ideias inovadoras, práticas, úteis, sem esquecer a solidariedade para com quem precisa.

"Lado a Lado tem por objectivo proporcionar a jovens com dificuldades económicas uma habitação gratuita em troca de algum acompanhamento a idosos. Júlio Santos é estudante de Direito e é o primeiro jovem ao abrigo do projecto.
Lado a Lado e decidiu concorrer. Não só porque é estrangeiro e precisava de alojamento, mas também porque reconhece a importância deste tipo de iniciativas. «É a possibilidade de ajudar, de integrar, de participar num projecto de solidariedade mútua que existe entre as novas gerações e a terceira idade e também dar uma contribuição valiosa a um país estrangeiro que nos acolhe», justifica.

Este projecto arrancou há cerca de dois meses e surgiu depois de um contacto da Universidade de Coimbra com um programa já iniciado pela Federação Académica do Porto em parceria com a Câmara Municipal da invicta e a Fundação Porto Social em 2004, o Programa Aconchego. «Aqui em Coimbra, o programa teve uma fase inicial de longa negociação com várias entidades, centros de acolhimento e redes sociais. Ao fim de seis meses criámos uma parceria com o Centro de Acolhimento João Paulo II e o programa arrancou. Desde então, já temos um jovem colocado, o Júlio, e uma idosa ao abrigo do programa, a D. Maria de Lurdes», conta Ana Margarida Teixeira, Coordenadora Geral do Projecto Lado a Lado.

Neste momento, e porque a Dona Maria de Lurdes (a idosa que está a cargo do Júlio) não reunia todas as condições para o alojar, o estudante está a morar numa habitação paga pelo Centro de Acolhimento. Mas o acompanhamento à idosa está garantido. O Júlio, sempre que pode, dá-lhe apoio indo às compras, à segurança social resolver algum assunto ou ao centro de saúde mais próximo levantar uma receita médica. «É fazer aquilo que, de algum modo, ela tem dificuldade em fazer. Passa por desempenhar tarefas que implicariam a deslocação da senhora durante várias horas. Mas são tarefas pontuais, que posso desenvolver num dia e só depois de uma semana voltar a desempenhar outra tarefa, de acodo com os pedidos dela», explica o Júlio.

Apesar das mais-valias do projecto, o Júlio considera que ainda existem alguns preconceitos por parte de outros jovens estudantes face ao programa. Júlio acha que a comunicação que tem sido feita pode ter, nalguns casos, uma conotação negativa que pode afastar o interesse de outros colegas em participar nesta acção. «Alguns gostaram da ideia e ao início disseram que queriam participar, mas depois começaram a perder o interesse, dizem que não têm tempo. Acho que há uma ênfase muito forte sobre a carência e ninguém quer ser chamado de carente. Ao utilizar-se a expressão "carenciado" as pessoas sentem-se incomodadas. Penso que o ideal era dizer que os estudantes universitários agora podem associar-se à terceira idade ajudando naquilo que puderem de acordo com a sua disponibilidade».

Júlio diz que a aproximação com a D. Maria de Lurdes não foi difícil e a experiência tem sido positiva. «Não é uma relação onde se discute sobre futebol, mas também não é de trabalho. É uma relação bem definida, de respeito, de cordialidade, de confiança. É ajudar uma pessoa numa coisa concreta».

O estudante considera que existe uma responsabilidade da juventude em fazer essa aproximação com as gerações mais velhas, não só para destruir preconceitos, mas também como forma de aprender novos valores e novas coisas. No fundo, partilhar conhecimentos. «A juventude não tem sido bem vista na relação com os idosos porque algumas pessoas não têm feito coisas muito correctas. Temos aqui uma questão de responsabilidade e também o compromisso de envolvimento com uma pessoa idosa. Os universitários já têm um certo nível de saber, então é mais fácil compreenderem este problema, este fenómeno social. Sou estrangeiro e também tenho essa responsabilidade, de me envolver com pessoas diferentes. Posso aprender a fazer coisas que não sabia porque tenho essa vontade».
Para todos aqueles a quem esta reportagem aguçou a vontade de ser um membro Lado a Lado, note-se que ainda vão a tempo. Só precisam de se dirigir à Direcção Geral da Associação Académica de Coimbra acompanhados do CV académico e de dados comprovativos da sua actual situação financeira. Ali, alguém há-de saber encaminhá-los."

Fonte: Mundo Universitário

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Satélite Envisat despediu-se a olhar para Portugal - Ciências - PUBLICO.PT

Satélite Envisat despediu-se a olhar para Portugal - Ciências - PUBLICO.PT


Esta notícia é curiosa: quando passava sobre o nosso país, um satélite deixou de transmitir a cores e, pouco tempo depois, deixou simplesmente de comunicar.
Não deixa de nos interpelar e de nos levar a leituras alegóricas: estaremos a "perder cor" enquanto país? Estas medidas draconianas de controlo orçamental, que não olham a nada mais a não ser ao financeiro, não permitem encarar a realidade presente - e, logo, o futuro - com boas cores. Mas não apagou logo a comunicação: ainda houve uns momentos de transmissão a preto e branco. Alegoria: o apagamento, um dia a dia mais triste, sombrio. Até ao desaparecimento final.
Pode ser este o percurso, ou não. Sabemos que já civilizações inteiras sucumbiram a condicionantes mais ou menos trágicas e inesperadas. O nosso problema é que estamos a presenciar acontecimento atrás de acontecimento, medida atrás de medida, e temos noção do perigo.
Não nos importamos com o "perder a cor", mas e quando a comunicação simplesmente deixar de existir?
E que riscos verdadeiros corremos? Que devir para a nossa vida coletiva?

Guardas prisionais denunciam falta de meios e insegurança nas cadeias - Sociedade - PUBLICO.PT



Guardas prisionais denunciam falta de meios e insegurança nas cadeias - Sociedade - PUBLICO.PT

Hospitais, centros de saúde, escolas, tribunais, empresas de transportes, cadeias... Já se sabe que a situação estava complicada e que o caminho a percorrer teria de ser penoso, mas daí até aceitar passiva a acriticamente as condições terceiro-mundistas que nos querem impor, vai uma diferença grande.Há sempre o grande argumento de que tem de ser, que não há dinheiro para mais e que temos de aguentar o  barco até melhores dias. Mas o que está a ser feito para chegarmos a esses melhores dias? Tirar medicação nos hospitais a doentes cuja vida depende dela, subtrair refeições aos alunos nas escolas, deixar pessoas à fome e famílias inteiras (muitas com crianças à fome) é criminoso.
Protestar e exigir melhor governação não é incitar à revolta nem um favor que nos fazem, é um imperativo da democracia em que (supostamente) vivemos.

Al Berto: letras, palavras, poesia...

"Pernoitas em mim
e se por acaso te toco a memória... amas 
ou finges morrer

pressinto o aroma luminoso dos fogos
escuto o rumor da terra molhada
a fala queimada das estrelas

é noite ainda
o corpo ausente instala-se vagarosamente
envelheço com a nómada solidão das aves

já não possuo a brancura oculta das palavras
e nenhum lume irrompe para beberes"

Al Berto
In Rumor dos Fogos (1992)


Não é possível - por razões óbvias - esgotar as palavras e interpretações no que toca à poesia de Al Berto.
Este poema entra-nos no espírito como a noite sucede ao dia: suave, total, inevitável. Há um "tu" que pernoita em mim e uma memória que se materializa e que pode ser tocada, quer pelo amor, quer pelo fingimento da morte (serão as duas coisas idênticas, será o amar e o dar um pouco de si ao outro morrer já um bocadinho?).
Mas no ar ainda há aroma (cheiro) que é luminoso (visão) que talvez possamos tocar (tato) quando se desfaz no rumor (audição) da terra queimada. 
Provavelmente este sujeito poético pensante pretende uma absolvição pela diluição numa sinestesia de sensações últimas, apenas possível na iminência da morte (ou do amor?). 
Mas a realidade é que a noite permanece e o envelhecimento traz a solidão, nada restando, pois tudo foi destruído pelo fogo (quem sabe, pela vida).

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Sugestão de espetáculo de marionetas no Funchal

No dia 15 de abril, no Teatro Municipal Baltazar Dias, irá acontecer magia com o espetáculo de marionetas "Fios" com "com um PIANISTA, uma LAGARTA, um ACORDEONISTA, uma AVESTRUZ, um LEÃO PATINADOR, uma GALINHA e dois GATOS, entre muitas outras personagens fascinantes", como se lê na página de facebook que divulga o espetáculo.
Mais uma vez se comprova que temos bons espetáculos de teatro e de animação na Madeira e que as vozes catastrofistas afinal não têm sempre razão. 
O preço do bilhete é 5 euros e há sessão às15h30m e outra às 17h30m com a duração aproximada de 60minutos.
Fica a sugestão:)

terça-feira, 10 de abril de 2012

segunda-feira, 9 de abril de 2012

O laranjal cá do sítio

 

Começo com um conto de fadas.
Era uma vez uma laranjeira que nasceu numa ilha paradisíaca, onde a água era abundante, onde o sol brilhava o ano quase todo e as temperaturas eram quase sempre primaveris. Nestas condições, a árvore cresceu formosa e espalhou-se pela ilha, formando um lindo e cobiçado laranjal: os frutos brotavam com frequência e todos queriam apanhar laranjas frescas e sumarentas.
Quando outras espécies tentavam avançar, o laranjal, zeloso do seu espaço e dos seus clientes acostumados, bania-as. Orgulhoso, o laranjal ocupou todos os espaços disponíveis e não deixou mais nenhuma árvore florescer: apenas laranjas, mais nada. 
Ano após ano, as laranjas frutificavam e as raízes estavam cada vez mais fortes e fundas, consumindo a água armazenada, água doce e bebível, fresca e disponível para todos.
Até que a água começou a faltar. O laranjal continuou a afundar mais as suas raízes em busca do líquido precioso e não encontrava água para se abastecer. As mãos que tentavam apanhar laranjas levavam logo uma cacetada para não voltarem a cobiçar laranjas alheias. Mesmo entre as laranjas, começou uma guerra silenciosa, pois cada uma queria ocupar mais espaço, ter mais protagonismo, ser a laranja mais poderosa e cobiçada do laranjal.
Até que o laranjal começou a dar sinais de estar a secar. Outras laranjeiras tentaram ocupar o lugar central e mandar no laranjal lá do sítio, mas a árvore mais velha e soberana lá do sítio continuava a não deixar. 
Finalmente tudo secou. As laranjeiras e os que delas dependiam. O sumo acabou e toda a gente ficou triste e morreram à fome e à sede.
Não era propriamente este o final ideal para esta história (puramente fictícia, diga-se, sem qualquer semelhança com a realidade nem qualquer analogia política possível).
Não quero nem vou fazer deste espaço um painel de propaganda política de qualquer espécie. Mas quando vi este cartoon no "Diário de Notícias" da Madeira não pude deixar de partilhar.
Fica a reflexão.