quinta-feira, 31 de maio de 2012

Mais novidades nas escolas (a partir da notícia do Público on line)


Reproduzo a notícia do público on line acerca das novidades no Estatuto do Aluno, que passará a chamar-se Estatuto do Aluno e da Ética na Escola. Segundo parece, é um documento aprovado em Conselho de Ministros, que vai para a Assembleia para debate, mas que será alterado. Não percebi... Enfim, vejamos o que sairá daqui.

"Os planos individuais de trabalho destinado aos alunos faltosos vão ser substituídos por tarefas a favor da comunidade. E aos pais com filhos com excesso de faltas podem ser reduzidos apoios sociais ou aplicadas multas.
Em vez de a escola preparar planos individuais de trabalho para os estudantes que têm demasiadas faltas, o Ministério da Educação e Ciência defende que essas crianças e jovens façam trabalho a favor da comunidade, entre outras iniciativas, anunciou Nuno Crato, o ministro que tutela a Educação, no final do Conselho de Ministros desta quinta-feira, depois da aprovação do novo Estatuto do Aluno.
Quanto à responsabilização anunciada dos encarregados de educação pela falta de assiduidade dos filhos esta passará pela promoção de uma “forte censura social”, indicou o secretário de Estado do Ensino e da Administração Educativa, João Casanova de Almeida. Ao princípio da noite, o Ministério da Educação e Ciência adiantou em comunicado que esta "censura" pode levar "à redução de apoios sociais à família ou a contra-ordenações", conforme fora já antecipado em Dezembro pelo PÚBLICO. As multas aos pais nesta situação estão0 já prevista no Estatuto do Aluno em vigor nos Açores.
No comunicado do MEC acrescenta-se que, "no caso de se tratar de pais ou encarregados de educação de alunos apoiados pela Acção Social Escolar, a contra-ordenação é substituída pela privação do direito a apoio relativamente a manuais escolares". Os pais poderão ser também sujeitos a "programas de educação parental" por decisão das comissões de protecção de menores ou do Ministério Público.
O novo diploma, que segue agora para o Parlamento para debate e aprovação ( só será divulgado publicamente quandoi for remetido para a Assembleia da República), mudou de nome e intitula-se Estatuto do Aluno e Ética Escolar.
Segundo Nuno Crato, esta alteração deve-se ao facto de o novo estatuto não pretender ser apenas uma explicitação dos deveres dos alunos, mas sim visar a sua integração numa ética da escola.
Sobre o fim dos Planos Individuais de Trabalho (PIT), introduzidos por Isabel Alçada e que substituíram as provas de recuperação lançadas por Maria de Lurdes Rodrigues, o secretário de Estado do Ensino e da Administração Escolar, João Casanova de Almeida esclareceu que estes eram “essencialmente burocráticos” e que “a maioria não era cumprida”, Representavam “um sobrecarga sobre os professores, com resultados muito diminutos”, frisou.
Casanova de Almeida acrescentou que, com o novo estatuto, competirá às escolas “escolher a melhor forma de integrar” os alunos com excesso de faltas. No entanto, em caso persistente de absentismo, as escolas serão obrigadas a assinalar estes alunos junto das comissões de protecção de menores e jovens. Esta obrigação já existe, mas segundo o secretário de Estado passará a existir agora um “cuidado diferente na articulação com as comissões de protecção” através de “meios humanos” que vão ser disponibilizados pelo ministério.

Penas agravadas

Os alunos que forem suspensos por mais de cinco dias também terão de ser sinalizados junto das comissões. Mas no geral, segundo Crato, serão os Conselhos Gerais dos agrupamentos - os órgãos onde estão representados professores, auxiliares, pais e autarquias – que definirão as medidas disciplinares a aplicar aos alunos. Entre os deveres dos alunos fixados no novo estatuto figurará a obrigação da reparação de danos causados na escola. 
Na sequência da aprovação do novo estatuto pela Assembleia da República, o Código Penal será alterado de modo a prever um agravamento em um terço das penas previstas para crimes contra a pessoa e o património ocorridos nas escolas ou relacionados com estas, esclareceu o secretário e Estado da Presidência do Conselho e Ministros, Marques Guedes.
Em vez de a escola preparar planos individuais de trabalho para os estudantes que têm demasiadas faltas, o Ministério da Educação e Ciência defende que essas crianças e jovens façam trabalho a favor da comunidade, entre outras iniciativas, anunciou Nuno Crato, o ministro que tutela a Educação, no final do Conselho de Ministros desta quinta-feira, depois da aprovação do novo Estatuto do Aluno.
Quanto à responsabilização anunciada dos encarregados de educação pela falta de assiduidade dos filhos esta passará pela promoção de uma “forte censura social”, indicou o secretário de Estado do Ensino e da Administração Educativa, João Casanova de Almeida. Ao princípio da noite, o Ministério da Educação e Ciência adiantou em comunicado que esta "censura" pode levar "à redução de apoios sociais à família ou a contra-ordenações", conforme fora já antecipado em Dezembro pelo PÚBLICO. As multas aos pais nesta situação estão já prevista no Estatuto do Aluno em vigor nos Açores.
No comunicado do MEC acrescenta-se que, "no caso de se tratar de pais ou encarregados de educação de alunos apoiados pela Acção Social Escolar, a contra-ordenação é substituída pela privação do direito a apoio relativamente a manuais escolares". Os pais poderão ser também sujeitos a "programas de educação parental" por decisão das comissões de protecção de menores ou do Ministério Público.
O novo diploma, que segue agora para o Parlamento para debate e aprovação ( só será divulgado publicamente quando for remetido para a Assembleia da República), mudou de nome e intitula-se Estatuto do Aluno e Ética Escolar.
Segundo Nuno Crato, esta alteração deve-se ao facto de o novo estatuto não pretender ser apenas uma explicitação dos deveres dos alunos, mas sim visar a sua integração numa ética da escola.
Sobre o fim dos Planos Individuais de Trabalho (PIT), introduzidos por Isabel Alçada e que substituíram as provas de recuperação lançadas por Maria de Lurdes Rodrigues, o secretário de Estado do Ensino e da Administração Escolar, João Casanova de Almeida esclareceu que estes eram “essencialmente burocráticos” e que “a maioria não era cumprida”, Representavam “um sobrecarga sobre os professores, com resultados muito diminutos”, frisou.
Casanova de Almeida acrescentou que, com o novo estatuto, competirá às escolas “escolher a melhor forma de integrar” os alunos com excesso de faltas. No entanto, em caso persistente de absentismo, as escolas serão obrigadas a assinalar estes alunos junto das comissões de protecção de menores e jovens. Esta obrigação já existe, mas segundo o secretário de Estado passará a existir agora um “cuidado diferente na articulação com as comissões de protecção” através de “meios humanos” que vão ser disponibilizados pelo ministério.

Penas agravadas

Os alunos que forem suspensos por mais de cinco dias também terão de ser sinalizados junto das comissões. Mas no geral, segundo Crato, serão os Conselhos Gerais dos agrupamentos - os órgãos onde estão representados professores, auxiliares, pais e autarquias – que definirão as medidas disciplinares a aplicar aos alunos. Entre os deveres dos alunos fixados no novo estatuto figurará a obrigação da reparação de danos causados na escola. 
Na sequência da aprovação do novo estatuto pela Assembleia da República, o Código Penal será alterado de modo a prever um agravamento em um terço das penas previstas para crimes contra a pessoa e o património ocorridos nas escolas ou relacionados com estas, esclareceu o secretário e Estado da Presidência do Conselho e Ministros, marques Guedes.
Entre os deveres dos estudantes figura também a proibição de difundir imagens e/ou sons captados sem autorização e a obrigação de respeitar todos os elementos” da comunidade escolar. O novo estatuto recupera também a possibilidade de os alunos serem excluídos, conforme o PÚBLICO já adiantara, mas esta medida só se poderá aplicar a jovens com mais de 18 anos, uma vez que até essa idade são abrangidos pela escolaridade obrigatória. 

Matrizes curriculares

No Conselho e Ministros de hoje foram aprovados ainda os diplomas sobre a revisão curricular e o regime de matrícula e de frequência no âmbito da escolaridade obrigatória até aos 18 anos. Os diplomas vão ainda sofrer algumas alterações, pelo que não serão para já divulgados. Questionado pelos jornalistas, Crato insistiu que “não está prevista nenhuma redução de tempo” por comparação à proposta de revisão curricular que foi apresentada em Março, no final de um período de consulta pública.
As novas matrizes, divulgadas na semana passada pelo ministério, estão a criar confusão nas escolas, com muitos professores a denunciar que se traduzem num corte do tempo destinado às suas disciplinas, críticas que têm sido sobretudo feitas pelos docentes de Educação Física.
”Se as aulas de 45 minutos forem mantidas tudo se passará como foi apresentado em Março”, insistiu Crato. Em vez de calcular os tempos lectivos em blocos de 45 e 90 minutos, como até agora, o ministério, que vai dar autonomia às escolas para fixarem os tempos das aulas, apresentou o total de minutos semanal para cada disciplina, o que está a contribuir para a confusão gerada nas escolas. Crato indicou que as direcções regionais de educação irão reunir com directores de todo o país para explicarem o novo modelo.

Novo tipo de matrículas
Quanto ao novo regime de matrícula, o ministro indicou que vão ser implementadas “várias modalidades”, entre elas a matrícula no secundário regular, no profissional e por disciplina, de modo a “conciliar o estudo com algum trabalho” fora da escola. 
Marques Guedes acrescentou que vão ser feitas alterações pontuais ao Código de Trabalho de modo a adaptá-lo ao novo limite da escolaridade obrigatória. A idade legal de início do trabalho é de 16 anos, e vai manter-se, mas serão alteradas as disposições que obrigam os empregadores a só contratar os jovens que, com esta idade, tenham concluído a escolaridade obrigatória, acrescentou."

Sempre Sophia...


VIII

Vi as águas os cabos vi as ilhas
E o longo baloiçar dos coqueirais
Vi lagunas azuis como safiras
Rápidas aves furtivos animais
Vi prodígios espantos maravilhas
Vi homens nus bailando nos areais
E ouvi o fundo som das suas falas
Que já nenhum de nós entendeu mais
Vi ferros e vi setas e vi lanças
Oiro também à flor das ondas finas
E o diverso fulgor dos outros metais
Vi pérolas e conchas e corais
Desertos fontes trémulas campinas
Vi o rosto de Eurydice das neblinas
Vi o frescor das coisas naturais
Só do Preste João não vi sinais

As ordens que levava não cumpri
E assim contando tudo quanto vi
Não sei se tudo errei ou descobri.

Sophia de Mello Breyner Andresen,
 in Navegações (3ª ed.), Lisboa,
 Caminho, 1996.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Tão mau que mete dó

Não sei se é para rir ou para chorar: toda a situação é tão má que mete dó. Abstenho de fazer mais comentários... Gostaria que a história ficasse por aqui mas, segundo parece, ele promete voltar... Tenho medo, muito medo! Assim vai a nossa praça pública. É caso para dizer: chora, chora, quanto mais choras, menos mijas!

terça-feira, 29 de maio de 2012

O fim de um ciclo


Cheira a fim de regime mas a banda continua a tocar, tal como no Titanic. Dois factos políticos hoje o denunciam.
Uma moção de censura apresentada pelo PS-Madeira contra o governo regional do PSD (que teria a vantagem de unir toda a oposição madeirense) foi retirada quando o partido proponente constatou que o Presidente do Governo Regional não se encontrava presente. Na verdade, tal facto não é novo, pois ao longo de quase 40 anos tem sido assim: a falta de respeito pelo parlamento regional é "imagem de marca" de quem governa este pedaço de terra. Mas a verdade é que uma maioria "segura" por um deputado e que assume as mesmas atitudes de arrogância de sempre corre riscos de se afundar mais cedo do que o previsto.
Outro facto: uma sondagem publicada hoje pelo DN-Madeira dá conta de que, se as eleições regionais fossem hoje, algumas alterações teriam impacto na paisagem política da Madeira: o PSD perderia maioria, apesar de voltar a ser o partido mais votado, e ficaria com 22 deputados, ao passo que PP, PS e CDU ficariam com mais um deputado cada. O PTP também perderia um deputado e o BE voltaria a ter representação parlamentar. De salientar que o eleitorado considera que o Presidente do Governo Regional mentiu aos madeirenses.

domingo, 27 de maio de 2012

Desfile histórico nas ruas do Funchal

Hoje o Funchal fez uma viagem por séculos da sua História, desde os inícios da colonização e povoamento, até às revoltas mais recentes do século passado, para chegar às conquistas da nossa autonomia. Esta iniciativa enquadrou-se nas comemorações finais da Festa da Cultura do Funchal.
Nada contra; pelo contrário, a nossa História deve ser lembrada e relembrada, principalmente ensinada às gerações mais novas, que não têm noção nenhuma sobre as suas próprias raízes.
Positivo: a iniciativa em si, a escolha dos momentos importantes da nossa História, o guarda-roupa, o caráter informativo dos flyers distribuídos por jovens e crianças.
A repensar: muitos figurantes com ar de enfado, alguns com pastilha elástica na boca, outros com altos relógios, ainda alguns mexer nos telemóveis, pulseiras, calçado desadequado e óculos de sol na cabeça. Sei bem que o objetivo não era uma representação fiel da época, mas os pormenores também são importantes. A animação musical não era constante e havia momentos vazios, a informação dos flyers apenas estavam em português quando muitos turistas estavam a ver e poderiam aprender também qualquer coisa se a informação estivesse também, pelo menos, numa língua estrangeira.
Seja como for, ficam algumas fotos para relembrar.

























As nossas ribeiras há uns tempos atrás

Hoje vi esta fotografia na net e fiquei com saudades de quando as nossas ribeiras eram assim...


sábado, 26 de maio de 2012

Estranhar Pessoa

Ontem, no Colóquio "Estranhar Pessoa com as materialidades da literatura", reli este poema extraordinário de Caeiro, o mestre de todos os heterónimos. Fica aqui o poema VIII de O Guardador de Rebanhos.


Num meio-dia de fim de primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.
Tinha fugido do céu.
Era nosso de mais para fingir
De segunda pessoa da trindade.
No céu era tudo falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras.
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas –
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque não era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.
Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!
Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o sol
E desceu pelo primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
Com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.
A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
Aponta-me todas as coisas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.
Diz-me muito mal de Deus.
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar no chão
E a dizer indecências.
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.
E o Espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.
Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou –
«Se é que ele as criou, do que duvido» –.
«Ele diz, por exemplo, que os seres cantam a sua glória,
Mas os seres não cantam nada.
Se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres».
E depois, cansado de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
E eu levo-o ao colo para casa.
…………………………………………………
Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural,
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.
E a criança tão humana que é divina
É esta minha quotidiana vida de poeta,
E é porque ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre,
E que o meu mínimo olhar
Me enche de sensação,
E o mais pequeno som, seja do que for,
Parece falar comigo.
A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E a outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é o de saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.
A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direcção do meu olhar é o seu dedo apontando.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.
Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos e dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda.
Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo um universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.
Depois eu conto-lhe histórias das coisas só dos homens
E ele sorri, porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios
Que ficam fumo no ar dos altos mares.
Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade
Que uma flor tem ao florescer
E que anda com a luz do sol
A variar os montes e os vales
E a fazer doer aos olhos os muros caiados.
Depois ele adormece e eu deito-o.
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo-o lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.
Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate as palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.
………………………………………
Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.
………………………………………
Esta é a história do meu Menino Jesus.
Porque razão que se perceba
Não há-de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam?
Alberto Caeiro
In O Guardador de Rebanhos

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Sobre as escolas

Foi aprovado, no último conselho de ministros, um novo diploma sobre a autonomia das escolas. Finalmente!
Confesso que ainda não li o documento, mas importa refletir sobre o que a comunicação social referenciou (ainda que com algumas cautelas, pois sabemos o quanto os media, ávidos de notícias rápidas e sensacionalistas, por vezes com intuitos mais obscuros que a simples informação do público, ampliam certos dados para que apareçam com outras cores aos olhos de quem lê).
Em primeiro lugar, estando em maio, aproximando-se o fim do ano letivo (com tudo o que isso acarreta a nível de avaliações dos alunos e demais tarefas burocráticas que assombram o dia a dia dos professores), estando perto da época de exames (que este ano incluem a novidade dos exames de 6º ano de escolaridade), os professores não terão tempo de fazer uma reflexão séria sobre o documento. 
Como consequência, as escolas não terão tempo de "digerir" as novidades nem de se adaptar com a serenidade que tais mudanças acarretam no seu funcionamento.
Se aprovamos o reforço da autoridade da figura do diretor e do conselho pedagógico, já nos causa mais preocupação a firmação do ministro da educação e ciência quando diz que " "O que queremos é que, progressivamente, o corpo de directores do país tenha maior formação específica em aspectos que têm a ver com gestão e não directamente com a docência", pois abre caminho a que este cargo possa ser ocupado por alguém que não seja professor. Se se compreende a preocupação com a trágica situação financeira do país - que dados do primeiro trimestre deste ano, há poucos dias divulgados, aprofundam -, já não podemos aceitar que usemos essa desculpa para alterar a dinâmica e a lógica pedagógica das escolas, onde se joga a educação dos nossos jovens, nem que seja em áreas como a educação que se jogue a saúde orçamental do país.
Importa ler o documento com pormenor para poder opinar com fundamento. Penso que as generalizações e o excesso do ruído pode enfraquecer a posição dos professores em questões fundamentais da nossa profissão.
Aguardemos ainda como este diploma será adaptado á realidade regional da Madeira (se é que ainda dispomos de qualquer autonomia nesse sentido).

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Falsa tempestade de areia


Um repórter da Roménia anunciava uma tempestade de areia e dizia como era impossível se estar com a força do vento e com a areia por todo o lado. Afinal, um engano no ângulo da filmagem filma um homem ao lado a atirar areia para simular a suposta tempestade.
Este fait-divers tem tanto de patético como de problemático: parece que nem sempre devemos acreditar no que vemos na televisão, para mais num programa noticioso.

Fernando Pessoa ainda está na moda


Os grandes autores nunca saem de moda. Não sei bem se este é o termo certo, pois há muitos escritores que foram moda quase febril e acabaram no esquecimento, tal como muitos autores que hoje são vendidos como tremoços e provavelmente amanhã quase ninguém se lembrará deles. Quem ouviu falar de Ernesto Biester, um escritor dramático do nosso Romantismo cujas obras tiveram grande receção e cujas representações teatrais enchiam os teatros de Lisboa, muitas vezes com grande polémica entre atores e atrizes que faziam as delícias do mundo social de então? 
Os grandes autores continuam a ser lidos com entusiasmo e a ser motivo de debate e de revisitação, com leituras e releituras mais ou menos inovadoras.
Fernando Pessoa é um grande autor e suscita admiração, controvérsia, debate, emoção em todo o lado. Num recente leilão, a máquina de escrever, da marca Royal, em que Fernando Pessoa terá escrito foi à praça por 3000 euros e acabou arrematada por 22 mil euros, como se pode ler no "Público". O mesmo aconteceu com a secretária, em mogno, com tampo de esteira, quatro gavetas de cada um dos lados, o interior forrado a pele verde e com diversos compartimentos. A peça foi à praça por 10.000 euros e foi vendida por 58 mil.


Curiosa coincidência quando, dia 25 de maio, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, se discutirá novamente Pessoa na perspetiva do curso de mestrado e doutoramento de Materialidades da Literatura: "Estranhar Pessoa com as materialidades da literatura". Mais informações sobre este evento em http://matlit.wordpress.com/2012/05/15/primeiro-coloquio-do-programa-de-doutoramento-em-materialidades-da-literatura/, ou ainda em http://matlit.wordpress.com/2012/05/19/estranhar-pessoa-com-as-materialidades-da-comunicacao-participantes-e-comunicacoes/.


domingo, 20 de maio de 2012

É um(a) condutor(a) agressivo(a)?

Este é um teste sugerido pela revista "Visão" para verificar se somos condutores agressivos.
Não sei avaliar o rigor científico do mesmo, mas será interessante uma autoavaliação sobre a forma como nos comportamos na estrada.
É um bom exercício para quem conduz bem, para quem conduz mal, para quem pensa que conduz bem e afinal é um asno, para quem conduz mal e e sabe que conduz mal, para quem é maldoso de propósito, enfim... Divirtam-se!


Os jovens e a política






A política é uma atividade nobre, pelo menos deveria ser. A defesa da res publica e a vontade de querer contribuir para melhorar a nossa comunidade e a vida de quem nos rodeia deveria mobilizar-nos a todos. A política deve defender o cidadão, estar em prol da melhoria das condições de vida de todos (sem exceção).
Ora gosto de ver quando os jovens abarcam esta causa, independentemente das profissões que têm e das opções dos partidos políticos a que aderem. Os jovens deveriam ser os maiores interessados na política porque serão eles que amanhã terão nas mãos o destino da civilização.
A Luísa é uma jovem corajosa: tem ideias, opiniões e vai ao terreno, não se fica pela revolta sentada de café, como muitos fazem, mostrando assim que fazer política é mais do que urinar pelos cantos da cidade (nomeadamente carros da polícia) para marcar território. A Luísa joga no frente a frente, com coragem, no plano das ideias e das ações. E quem está ao lado dela também. 
Independentemente de achar que estão no partido errado, elogio a coragem e a determinação. A política agradece, principalmente numa terra tão avessa à verdadeira discussão política e à luta verdadeiramente democrática.