domingo, 7 de abril de 2013

"Devia-se morrer de outra maneira"

A morte hoje acenou-me ao longe, como que a dizer "olá, estou aqui, por aqui vou andando e de quando em quando vou dar um ar da minha graça". A morte hoje decidiu mostrar que, tão certo como haver vida, tão certo como depois do dia vir a noite e depois da noite vir o dia, ela também por cá anda e, mais cedo ou mais tarde, voltará a aparecer. 
Hoje mostrou-me que pode levar quem quer, quando quer, que é caprichosa, que não está minimamente interessada naquilo que eu possa pensar dela, que Deus nem sempre escreve certo por  linhas que simplesmente não existem. Sim, Deus muitas vezes se engana e desta vez foi bem injusto. 
Foi das minhas primeiras amizades. Quando nos encontrávamos parecia que nos conhecíamos desde sempre e que sempre tínhamos conservado a mesma intimidade ao longo dos anos, mesmo que lá no fundo soubéssemos que isso não era verdade. Mesmo assim, as nossas gargalhadas eram honestas e inocentes, como se não houvesse amanhã, como se não houvesse aquela doença maldita que lhe corroía o interior, com se não existisse pura e simplesmente morte. Apenas vida... Vida e gargalhadas.
Debaixo de um céu cinzento e a ameaçar chuva, fui dizer-te adeus e pensar que poderia ter estado presente no teu sofrimento. Não estive. No teu último momento por perto, ainda me conseguiste ensinar qualquer coisa: que o arrependimento também faz parte da vida e há de sempre haver momentos assim. E em segredo, como uma brisa, perdoaste-me e deixaste-me uma última gargalhada. Foste forte, como sempre. E pensei, como o poeta, que devíamos morrer de outra maneira.
Obrigado. Agora serás nuvem, ou arco-íris e poderei ver-te noutros sorrisos. A lembrar-me que antes da morte injusta há sempre muita vida.

4 comentários:

João Freitas disse...

Que talento, que qualidade, que palavras. Outra coisa não esperava da pessoa que o escreveu. ;)

Unknown disse...

Obrigado. Deixas-me sem jeito eheh Abraço

Unknown disse...

Amigo.
Olá, espero que esteja tudo bem contigo. Sei bem o que é perder um amigo e compreendo a dor nas tuas palavras e por muito bem que escrevas, imagino que a alma deve doer mais do que o que as palavras transcrevem. Difícil e injusto perder um amigo novo, alegre, companheiro de bons e maus momentos e por doença que teima em ceifar sorrisos lindos. Sem ser o mesmo caso o time da coincidência suaviza o coração, porque não conseguiria colocar os meus sentimentos tão simples como tu os colocaste mas me revi neste texto. Grata amigo por partilhares tão belo texto com teus amigo. Um abraço e "faça o favor de ser feliz".

Ps: Qualquer coisa disponha

paulus - psccou disse...

Não sei o que aconteceu, mas o texto é SUBLIME.
ALWAYS AROUND......