Faleceu ontem, a 19 de outubro, o poeta, escritor e ensaísta Manuel António Pina, que no ano passado tinha sido reconhecido com o prémio Camões. Apesar de não conhecer bem a obra, o pouco que dele li permite-me dizer que a literatura de língua portuguesa fica mais pobre. Nada mau para um escritor que uma vez, em entrevista, disse ter a perceção de que escrevia apenas para si e não para os outros, mas que depois teve um momento de lucidez ao ver as suas palavras na boca de muitos.
Fica a homenagem num momento em que a memória é mais forte pela poesia... sempre a poesia e a literatura, que poder tem sobre os homens... "Ainda não é o fim nem o princípio do mundo calma apenas é um pouco tarde"... Esperemos que, mesmo sendo tarde, consigamos dar os passos atrás necessários para revitalizar a cultura e não deixarmos a poesia emudecer.
O Medo
Ninguém me roubará algumas coisas,
nem acerca de elas saberei transigir;
um pequeno morto morre eternamente
em qualquer sítio de tudo isto.
É a sua morte que eu vivo eternamente
quem quer que eu seja e ele seja.
As minhas palavras voltam eternamente a essa morte
como, imóvel, ao coração de um fruto.
Serei capaz
de não ter medo de nada,
nem de algumas palavras juntas?
Manuel António Pina, in "Nenhum Sítio"
nem acerca de elas saberei transigir;
um pequeno morto morre eternamente
em qualquer sítio de tudo isto.
É a sua morte que eu vivo eternamente
quem quer que eu seja e ele seja.
As minhas palavras voltam eternamente a essa morte
como, imóvel, ao coração de um fruto.
Serei capaz
de não ter medo de nada,
nem de algumas palavras juntas?
Manuel António Pina, in "Nenhum Sítio"
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