sábado, 20 de outubro de 2012

Manuel António Pina

Faleceu ontem, a 19 de outubro, o poeta, escritor e ensaísta Manuel António Pina, que no ano passado tinha sido reconhecido com o prémio Camões.  Apesar de não conhecer bem a obra, o pouco que dele li  permite-me dizer que a literatura de língua portuguesa fica  mais pobre. Nada mau para um escritor que uma vez, em entrevista, disse ter a perceção de que escrevia apenas para si e não para os outros, mas que depois teve um momento de lucidez ao ver as suas palavras na boca de muitos. 
Fica a homenagem num momento em que a memória é mais forte pela poesia... sempre a poesia e a literatura, que poder tem sobre os homens... "Ainda não é o fim nem o princípio do mundo calma apenas é um pouco tarde"... Esperemos que, mesmo sendo tarde, consigamos dar os passos atrás necessários para revitalizar a cultura e não deixarmos a poesia emudecer.



O Medo
 
Ninguém me roubará algumas coisas,
nem acerca de elas saberei transigir;
um pequeno morto morre eternamente
em qualquer sítio de tudo isto.

É a sua morte que eu vivo eternamente
quem quer que eu seja e ele seja.
As minhas palavras voltam eternamente a essa morte
como, imóvel, ao coração de um fruto.

Serei capaz
de não ter medo de nada,
nem de algumas palavras juntas?

Manuel António Pina, in "Nenhum Sítio"

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