segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Reflexões sobre o ensino da literatura


Sempre achei  fascínio nos livros, ora estejam arrumados em empoeiradas estantes, ora novinhos em folha nas mais modernas livrarias, ora empilhados, como a foto documenta. Apetece-me tocar-lhes, folheá-los, invadir os seus mais íntimos segredos e fazê-los meus. Mesmo consciente da chamada crise das humanidade e do facto de se tratar muito mal a literatura (pelas mais diversas e, por vezes, incompreensíveis razões), a verdade é que é nas páginas dos livros que, muitas vezes, aprendemos a amar e que nos confrontamos com a nossa própria mundividência, pondo em causa os valores que antes considerávamos inabaláveis. 
Pode a literatura mudar o mundo? Não resisto em deixar como aperitivo à reflexão algumas profundas palavras de Octavio Paz, em Los hijos del limo, de 1956 (traduzidas num importante artigo sobre o ensino da literatura  - MELLO, Cristina, “Leitura e memória literária”, in I Jornadas Científico-Pedagógicas de Português, Instituto de Língua e Literatura Portuguesas  da Faculdade de Letras da universidade de Coimbra, Coimbra, Almedina):

"A poesia é conhecimento, salvação, poder, abandono. Operação capaz de mudar o mundo, a actividade poética é revolucionária por natureza; exercício espiritual, é um método de libertação interior. A poesia revela este mundo; cria outro. (...) Expressão histórica de raças, nações, classes. Nega a história: no seu seio resolvem-se todos os conflitos objectivos e o homem adquire finalmente consciência de ser algo mais do que trânsito. Experiência, sentimento, emoção, intuição, pensamento não dirigido. Filha do acaso, fruto do cálculo. Arte de falar de forma superior; linguagem primitiva. Obediência às regras; criação de outras. Imitação dos antigos, cópia do real, cópia de uma cópia da Ideia. Loucura, êxtase, logos. (...) Ensinamento, moral, exemplo, revelação, dança, diálogo, monólogo. A voz do povo, língua dos eleitos, palavra do solitário. Pura e impura, sagrada e maldita, popular e minoritária, colectiva e pessoal, nua e vestida, falada, pintada, escrita, ostenta todos os rostos, porém há quem afirme que não possui nenhum: o poema é uma máscara que oculta o vazio; prova formosa da supérflua grandeza de toda a obra humana."


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