sábado, 12 de maio de 2012

A música de Bernardo Sassetti


Queria escrever sobre a morte de Bernardo Sassetti mas não o conheci a não ser através da sua música (e ainda assim também não conhecia lá muito). Por isso não posso escrever sobre Bernardo Sasseti nem do facto de uma queda de uma falésia ter causado o seu desaparecimento sem que ninguém o previsse.
Poderia escrever sobre música (que melhor homenagem a um músico!), mas também não percebo lá muito de música. Como falar de alguém que não conhecemos pessoalmente, da música desse alguém que também não conhecemos aprofundadamente e sem conhecimentos especializados sobre música? Melhor então ficar quieto e escrever sobre o que esta música me sussurra ao ouvido.
Há músicas que nos lembram momentos do passado, outras fazem-nos recordar sentimentos, ainda as há que nos fazem chorar e ainda podíamos fazer referências àquelas que não nos dizem absolutamente nada. Mas não podemos dizer que não gostamos de música, seja de que tipo for.
Esta (do filme "Alice" de Marco Martins) lembra-nos precisamente a noite. Qualquer noite: calma, brisa quente de verão, as ruas iluminadas pelos candeeiros e um cão rafeiro em busca de um sítio silencioso para dormir. Lembra-nos os ruídos da noite, um carro que passa ao longe, o barulho dos carros do lixo e dos homens e das mulheres que trabalham depois do sol posto. Algumas vozes ao longe sem que nos apercebamos exatamente de onde vêm. E um casal de namorados num banco no cais da cidade. Traz-nos à ideia rostos de pessoas que se cruzam por nós e que não fixamos, mundos em deriva, sem sol, sem luz, apenas o silêncio da noite no olhar. Sussurra-nos desejos e vontades que não confessamos à luz dos dias. E isso faz-nos mais humanos do que alguma vez fomos. Esse o poder da música, essa a magia que Sassetti nos traz.

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