Hoje não me apetece publicar nada sobre política nem sobre crise. Para isso, basta o dia a dia, ligar a televisão, folhear um jornal, ouvir as conversas de café. Apetece-me poesia... Como escreveu Manuel Alegre no seu último livro (que saiu esta segunda-feira), "Não sei se há poemas sem país".
O querer chegar a um palácio e aperceber-se de que está vazio é uma imagem carregada de grande simbolismo. Percorrendo desertos e sóis qual cavaleiro andante, personagem quase quixotesca, busca o palácio encantado da Ventura que, provavelmente nunca terá. E no fim, apercebe-se de que realmente o próprio castelo é uma ficção, cheio de silêncio e escuridão. Percorrem estas palavras um tom melancólico: provavelmente este sujeito poético já sabia qual seria o resultado da sua demanda.
O Palácio da Ventura
Sonho que sou um cavaleiro andante.
Por desertos, por sóis, por noite escura,
Paladino do amor, busco anelante
O palácio encantado da Ventura!
Mas já desmaio, exausto e vacilante,
Quebrada a espada já, rota a armadura...
E eis que súbito o avisto, fulgurante
Na sua pompa e aérea formosura!
Com grandes golpes bato à porta e brado:
Eu sou o Vagabundo, o Deserdado...
Abri-vos, portas de ouro, ante meus ais!
Abrem-se as portas d'ouro com fragor...
Mas dentro encontro só, cheio de dor,
Silêncio e escuridão - e nada mais!
Antero de Quental, in "Sonetos"
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