domingo, 15 de abril de 2012

Da idade da reforma e outras ficções

 
 
Em 2011 estreou "In time - O preço do amanhã", com realização de Andrew Niccol e com Justin Timberlake no papel principal.
A história resumida do filme é simples: num futuro pouco risonho, a tecnologia e os avanços científicos permitem à humanidade a capacidade de fazer com que os seres humanos se conservem, através de manipulações genéticas, sempre novos. Para isso, têm de comercializar o tempo de vida que lhes é atribuído num relógio incorporado no braço. Não há dinheiro e as trocas são feitas tendo sempre por base o factor tempo. A criminalidade tem apenas em conta esse vetor: mata-se para conseguir mais tempo. Claro está que os mais ricos fazem da comercialização e do roubo do tempo mais uma maneira de enriquecer. Quando acaba o tempo, o indivíduo morre.
O que tem isto a ver com a idade da reforma que, segundo parece, o nosso governo quer alterar de 65 para 67? Nada, pelo menos diretamente. Numa segunda instância, podemos interpretar o filme como uma metáfora do que se passa por essa Europa (é limitador pensar que é uma situação apenas portuguesa), onde se usa o argumento do aumento da esperança de vida para justificar tudo e mais alguma coisa em relação à idade da reforma e em relação às condições a que sujeitamos os reformados. A desumanidade com que tratamos pessoas que contribuíram para a sociedade, trabalharam, descontaram, pagaram os seus impostos não tem desculpa nem argumento que a justifique. 
A verdade é que se trata de um problema social e não tenho solução para ele.Se no filme as pessoas ficam sempre novas, a vida real é mais complicada: envelhecem. Envelhecemos, sem qualquer contemplação. As sociedades devem refletir seriamente sobre o modelo em que se querem apoiar e não seguir atrás do que é imediato só porque o mundo financeiro está doente e asfixia tudo à sua volta. 
Estranhamente o tempo está a acabar até que a situação se torne insustentável. Lá está ele, o tempo, útil, precioso, inevitável... E a idade da reforma chega a todos.


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