terça-feira, 24 de abril de 2012

Fernando Pessoa por Joao Villaret - Liberdade



Encontrei este poema de Fernando Pessoa citado por João Villaret numa página de facebook de um amigo e fiquei logo com vontade de ouvi-lo repetidas vezes. Não se fala de liberdade tantas vezes quanto podíamos ou devíamos. Às vezes nem sequer se fala dela ou nem por ela damos. Às vezes nem a temos e também passa-nos ao lado o facto de por vezes ser uma ilusão num mundo controlado por instituições nem sempre bem intencionadas.
Amanhã, 25 de abril, fala-se de liberdade em Portugal. Cheira a Abril (com maiúscula!). A liberdade a que aspirámos e pela qual combatemos, a que tivemos, a que sonhámos ter, a que supostamente tivemos e a que perdemos (partindo do princípio inocente de que dela alguma vez usufruímos). Mas liberdade é liberdade, Pessoa é pessoa e poesia é poesia... Um momento de liberdade para ler e ouvir, nem que seja uma doce ilusão.



Liberdade 

 Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
Sol doira
Sem literatura
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como o tempo não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto é melhor, quanto há bruma,
Esperar por D.Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,

Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

Mais que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

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