sexta-feira, 13 de abril de 2012

Nem tudo é mau em tempo de crise - Universidade de Coimbra: projeto de interajuda que une estudantes e idosos

Universidade de Coimbra: projecto de inter-ajuda que une estudantes e idosos


De facto nem tudo é mau em épocas de crise. Um projeto interessante que pretende ajudar tanto estudantes a precisar de alojamento em Coimbra - cidade universitária por excelência - como idosos a precisar de companhia e de algum apoio para as tarefas do dia a dia.
Em baixo, transcrevo o texto da notícia na íntegra.
Apenas uma chamada de atenção: quando somos bombardeados com más notícias quase diariamente, é bom ver que há inovação e vontade de superar dificuldades. Este projeto não vai salvar o país, nem realizar milagres no coletivo, mas é com passos destes que se descobrem ideias inovadoras, práticas, úteis, sem esquecer a solidariedade para com quem precisa.

"Lado a Lado tem por objectivo proporcionar a jovens com dificuldades económicas uma habitação gratuita em troca de algum acompanhamento a idosos. Júlio Santos é estudante de Direito e é o primeiro jovem ao abrigo do projecto.
Lado a Lado e decidiu concorrer. Não só porque é estrangeiro e precisava de alojamento, mas também porque reconhece a importância deste tipo de iniciativas. «É a possibilidade de ajudar, de integrar, de participar num projecto de solidariedade mútua que existe entre as novas gerações e a terceira idade e também dar uma contribuição valiosa a um país estrangeiro que nos acolhe», justifica.

Este projecto arrancou há cerca de dois meses e surgiu depois de um contacto da Universidade de Coimbra com um programa já iniciado pela Federação Académica do Porto em parceria com a Câmara Municipal da invicta e a Fundação Porto Social em 2004, o Programa Aconchego. «Aqui em Coimbra, o programa teve uma fase inicial de longa negociação com várias entidades, centros de acolhimento e redes sociais. Ao fim de seis meses criámos uma parceria com o Centro de Acolhimento João Paulo II e o programa arrancou. Desde então, já temos um jovem colocado, o Júlio, e uma idosa ao abrigo do programa, a D. Maria de Lurdes», conta Ana Margarida Teixeira, Coordenadora Geral do Projecto Lado a Lado.

Neste momento, e porque a Dona Maria de Lurdes (a idosa que está a cargo do Júlio) não reunia todas as condições para o alojar, o estudante está a morar numa habitação paga pelo Centro de Acolhimento. Mas o acompanhamento à idosa está garantido. O Júlio, sempre que pode, dá-lhe apoio indo às compras, à segurança social resolver algum assunto ou ao centro de saúde mais próximo levantar uma receita médica. «É fazer aquilo que, de algum modo, ela tem dificuldade em fazer. Passa por desempenhar tarefas que implicariam a deslocação da senhora durante várias horas. Mas são tarefas pontuais, que posso desenvolver num dia e só depois de uma semana voltar a desempenhar outra tarefa, de acodo com os pedidos dela», explica o Júlio.

Apesar das mais-valias do projecto, o Júlio considera que ainda existem alguns preconceitos por parte de outros jovens estudantes face ao programa. Júlio acha que a comunicação que tem sido feita pode ter, nalguns casos, uma conotação negativa que pode afastar o interesse de outros colegas em participar nesta acção. «Alguns gostaram da ideia e ao início disseram que queriam participar, mas depois começaram a perder o interesse, dizem que não têm tempo. Acho que há uma ênfase muito forte sobre a carência e ninguém quer ser chamado de carente. Ao utilizar-se a expressão "carenciado" as pessoas sentem-se incomodadas. Penso que o ideal era dizer que os estudantes universitários agora podem associar-se à terceira idade ajudando naquilo que puderem de acordo com a sua disponibilidade».

Júlio diz que a aproximação com a D. Maria de Lurdes não foi difícil e a experiência tem sido positiva. «Não é uma relação onde se discute sobre futebol, mas também não é de trabalho. É uma relação bem definida, de respeito, de cordialidade, de confiança. É ajudar uma pessoa numa coisa concreta».

O estudante considera que existe uma responsabilidade da juventude em fazer essa aproximação com as gerações mais velhas, não só para destruir preconceitos, mas também como forma de aprender novos valores e novas coisas. No fundo, partilhar conhecimentos. «A juventude não tem sido bem vista na relação com os idosos porque algumas pessoas não têm feito coisas muito correctas. Temos aqui uma questão de responsabilidade e também o compromisso de envolvimento com uma pessoa idosa. Os universitários já têm um certo nível de saber, então é mais fácil compreenderem este problema, este fenómeno social. Sou estrangeiro e também tenho essa responsabilidade, de me envolver com pessoas diferentes. Posso aprender a fazer coisas que não sabia porque tenho essa vontade».
Para todos aqueles a quem esta reportagem aguçou a vontade de ser um membro Lado a Lado, note-se que ainda vão a tempo. Só precisam de se dirigir à Direcção Geral da Associação Académica de Coimbra acompanhados do CV académico e de dados comprovativos da sua actual situação financeira. Ali, alguém há-de saber encaminhá-los."

Fonte: Mundo Universitário

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